quarta-feira, 30 de junho de 2010

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma Introdução à História. Brasiliense, São Paulo, 1992.




O livro Uma introdução à História de Ciro Flamarion S. Cardoso traz vários questionamentos acerca do que é Historia, do papel do historiador, dos problemas enfrentados por esse na construção de um projeto de pesquisa, e também os itens que são necessários para que o mesma possa se tornar uma pesquisa histórica.
Cardoso mostra que vários pensadores negam a cientificidade da Historia. O neopositivismo não á aceita como uma ciência, pois afirmam que o fato da História humana são acontecimentos únicos e por isso não podem ser verificados, para eles só é ciência o que se pode provar como é o caso da matemática. Jaegle e Roubaud, especialistas das ciências maturais enfatizam que a Historia não pode ser reversível e por isso ela é inimitável ao contrário do ocorre com as ciências naturais. O autor também mostra que o problema da cientificidade da História discutido por historiadores como é o caso de Paul Veyne ocorre porque ela tem um grande número de acontecimentos, por essa razão só seria possível fornecer explicação científica de alguns fatos, sendo assim ela não seria totalmente científica.
Ciência não se limita apenas ao conhecimento das leis da natureza, é também ciência os acontecimentos das sociedades. Na ciência não existe verdades absolutas o que ocorre é que a cada avanço se acumula conhecimento o que poderá ficar mais próximo da verdade.
Vários são os siguinificados da palavra, ela pode ser usada para designar uma disciplina e dentro dela existem subdisciplinas, cada uma com siguinificado diferente, por exemplo: História do Brasil e História das sociedades pré colombianas, e história com inicial minúscula que quer dizer a história dos homens e das diversas sociedades. Além disso pode ser encarada como uma ciência, enfim o termo história está inserido em diferentes contextos.
A partir das idéias do humanismo no século XVI, começou a surgir exigências mais cientificas em relação a pratica e definição da História. Nesse período houve a preocupação de fazer a verificação de textos históricos para só depois aceitá-los como documentos.
No século XVII essa preocupação aumentou ainda mais. Com toda discurssão em torno da reforma e contra-reforma e acusações dos protestantes contra os católicos, dentro do catolicismo criou-se uma corrente crítica que negou a autenticidade de documentos da Idade Média. Isso acabou não sendo visto com bons olhos por outras ordens religiosas. Em 1681 Dom Malibon publicou uma obra que dizia se possível provar a veracidade de documentos através de indícios materiais, esse foi um importante passo para o trabalho dos historiadores.
O século XVIII foi importante porque teve bastantes avanços no campo das teorias e das concepções de História.
No século XIX, desenvolveu-se a arqueologia e foram publicados documentos da História Antiga e Medieval, surgiu escolas históricas nacionais e européias. Nesse século também houve o predomínio da pesquisa erudita e a elaboração de monografias, todos esses acontecimentos estavam ligados ao positivismo e o historicismo. Os historiadores positivistas seguindo a linha de pensamento de Auguste Conte acreditavam na História como ela sendo uma ciência, já os historicistas à via de forma subjetiva que não se compara com as ciências biológicas e a exatidão de suas leis.
No século XX, a construção da História como ciência foi influênciada pelo marxismo e o grupo dos Annales, ambos tem pontos em comum em suas concepções, pó exemplo: respeitam as especificidades históricas de cada época e sociedade, o uso de hipóteses e uma preocupação de fazer com que a Historia seja vista como uma ciência.
Para o autor a História ainda é uma ciência em construção, pois os historiadores ainda estão fazendo descobertas aos meios de análise adequada.
Os historiadores do final do século XIX e inicio do XX baseavam o conhecimento histórico na observação indireta dos fatos que eram feitos através de fontes conservadas. Para esses historiadores tradicionais as fontes escritas além de seres extremamente necessária, elas eram a única forma que se tinha para analisar os diversos acontecimentos, assim despresavam outros tipos de fontes. Ainda para esses historiadores era importante obter informações antes de começar o processo de pesquisa. A heurística é uma dessas idéias, essa prática serve para localizar reunir e classificar as fontes históricas. Esse trabalho é feito por bibliotecários e arquivistas, em alguns casos é feito por historiadores. No século XX a heurística passou a dispor de outros tipos de fontes, como é o caso de computadores microfilmes, microfichas filmes e xérox. Também era importante o domínio de algumas disciplinas auxiliares da História, por exemplo; diplomática genealogia, mumismática, cronologia e outras.
Com o passar dos anos essas disciplinas auxiliares passou por avanços tecnológicos, aumentando também o numero delas; a informática estatística, arqueologia passando a auxiliar os historiadores da modernidade.
A crítica externa dos testemunhos é a etapa do método tradicional conhecida como crítica de erudição que se apóia nas disciplinas auxiliares, sua função é avaliar os documentos para dizer se ele é falso ou verdadeiro, e isto é feito de maneira comparativa com a documentação da época avaliada. Ainda existe o problema do historiador se deparar com documentos que não tem identificação e não se sabe se são autênticos ou não, mesmo com os avanços na forma de trabalhar comas fontes a crítica externa é fundamental para que o profissional possa fazer o seu trabalho.
A crítica de restituição é uma avaliação do documento, no qual ele é restaurado para que volte ao seu estado original em perfeitas condições, isso é feito de maneira para que possíveis erros de cópias possam ser corrigidos. Esses erros geralmente estão na forma de escrita dessas cópias. A crítica de restituição é feita pela comparação de cópias de um mesmo documento.
Outra etapa do método tradicional é a crítica de procedência, sua função é determinar a origem, data e lugar de documentos que não se tem referências de onde e por quem foram feitos.
A crítica interna dos testemunhos ou a crítica de veracidade, ao contrário da crítica externa, serve para analisar se o conteúdo do documento é verdadeiro ou não. No primeiro momento é feita a interpretação, e o historiador tem que aprender o conteúdo do texto, sendo que para isso é preciso que ele conheça a língua que o documento foi redigido, além dos aspectos culturais. Depois é feita a crítica de sinceridade, nela é verificado as afirmações do autor e em seguida a crítica de exatidão, no qual observa o grau de conhecimento que o autor detinha, ambas tem como característica a “desconfiança sistemática”, nada pode ser dada como verdadeiro se não foi totalmente examinado.
O historiador ainda usa a crítica interna, porém, com uma visão diferenciada dos historiadores tradicionais, tal visão era baseada nas idéias do humanismo racionalista. Esses novos historiadores buscam analisar não só os seus conteúdos, mas também a condição sócio-históricas que o fato foi feito.
Os historiadores tradicionais na eram muito otimistas quando se tratava da síntese histórica e da interpretação dos fatos localizados, par eles os fatos históricos além de aparecerem misturados nos documentos te natureza variada, isso dificulta o trabalho do historiador, pois a sua localização é fundamental pra que eles não se percam no tempo. Diante desses problemas os historiadores faziam as operações sintéticas relacionando os fatos passados com os atuais.
Os passos do método científico esta divididos em cinco etapas: colocação do problema, no qual é preciso reconhecer os elementos importantes para estudo, isso é feito através da avaliação e classificação dos fatos disponíveis, em seguida faz o descobrimemto do problema. Na construção de um modelo teórico, depois de identificado o problema passa a identificar os fatores pertinentes, em seguida cria-se as hipóteses, onde é colocada as possíveis respostas, depois se da a dedução das consequências particulares, depois da avaliação das hipóteses é a hora de fazer a prova destas e por fim proceder a introdução das conclusões obtidas na teoria, o pesquisador fará a comprovação das provas com as consequências que tinha deduzido das suas hipóteses.
O desenvolvimento da quantificação sistemática começou a partir de 1930. A utilização desse método faz com que os historiadores percebam que igual a outros cientistas eles podem selecionar recortar o seu objeto pesquisado e fazer uso dela de maneira adequada aumentando a objetividade do trabalho histórico.
O método comparativo é a construção de modelos e é um dos instrumentos metodológicos desenvolvidos no século XX. O primeiro os historiadores costuma aplica-los de forma cautelosa, ele só é usado em casos onde há semelhança, mais isso não quer dizer que ele não venha ser usado em outras condições. O segundo tem três tipos específicos, muito usados na pesquisa histórica, os isomórficos, arbitrários e os modelos alternativos que é muito usado pela Nova História Econômica norte-americana.
Na explicação histórica e suas modalidades são usadas várias dessas explicações pelos historiadores baseados nas idéias de J. Topolski. Explicação mediante uma descrição, que deve responder as questões como: quê, quem, quando. Isso é fundamental para que se possa fazer uma narração clara. Explicação genética, explicação estrutural ou funcional são as que indicam o lugar dos acontecimentos pra que esses possam ser compreendidos. Explicação mediante uma definição, responde as perguntas do tema proposto explicação causal responde grande parte das perguntas.
Outro teórico, Robert Berkhofer Jr, mostra outras concepções de explicação. A explicação causal, por exemplo, apresenta vários tipos, as monocausais e as multicausais.
Ciro Flamariom mostra os itens que são importantes para a elaboração de um projeto de pesquisa, são eles: identificação do problema a pesquisar, formulação e delimitação do tema de pesquisa, essa parte deve ter o tema formulado e saber quais os pontos q eu vão ser abordados ao longo do estudo e pó fim a justificativa.
Existem quatro critérios que servem para justificar o tema escolhido na hora da pesquisa em História são eles: o critério de relevância, ele tem dois aspectos , o da relevância social, nele o pesquisador deve direcionar sua pesquisa ao momento social que ele vive e o de relevância científica no qual o pesquisador deve esta atento as evoluções da ciência histórica. O critério de viabilidade que além de ter de ser interessante é preciso que o tema escolhido seja possível de se pesquisar, isso inclui fazer uso de materiais próximo ao pesquisador. Além disso, o pesquisador deve dispor de recursos financeiros e tempo para realizar seu trabalho em todas as etapas. Nesse ponto o autor faz uma crítica a pesquisadores brasileiros que escolhem temas que vão além de suas capacidades no momento e isso acaba por trazer “distorções” as pesquisas. No critério de originalidade o tema deve ser original pois assim ele irá contribuir no preenchimento de lacuna ou ir para outros caminhos, desde que pesquise em fontes ainda não estudadas ou ainda rebatendo teses já definida. Por ultimo, vem o interesse pessoal, é importante que o pesquisador trabalhe com o que lhe interessa. O projeto de pesquisa deve ter seu objetivo claro para que o mesmo possa lido e interpretado por diversas pessoas sem precisarem serem especialistas no assunto, também tem que partir de uma base teórica sólida, pois as escolhas das hipóteses depende das escolhas de teorias sendo assim é importante que o pesquisador de forma clara ligue essas teorias ao tema e as hipóteses, elas devem aparecer com clareza, ao contrário da a entender que o pesquisador não soube lhe dá com a teoria usada.
Tratando de fontes o autor enfatiza que o primordial que se tenha sua tipologia, para isso tem que fazer uma análise da documentação, ver os pontos a favor e contra. Já a metodologia vai depender do tema e o que vai extrair dele. Também é importante os dados bibliográficos, todas as fontes usadas na pesquisa deve ser devidamente registrada.
A escolha do tema é feita pelo pesquisador vizando preencher lacunas ou aprofundar mais os estudos sobre o tema. A partir do momento que se escolhe o tema o pesquisador terá que fazer mais leituras sobre o tema e também sobre os assuntos ligados a ele, consultar especialistas se tiver oportunidade e também poderá analisar outros projetos que contem o mesmo assunto, só assim ele terá a formulação de um tema preciso. É fundamental que o tema seja delimitado, seja ele no espaço, tempo com um recorte temporal preciso e quadro institucional.
A construção do modelo teórico é outro passo importante que deve ser tomado, neles serões colocados às hipóteses de trabalho. Ciro Flamarion vê na colocação dessas hipóteses um grande problema para os pesquisadores brasileiros, para o autor um dos motivos disso acontecer é porque muitos não tem domínio das teorias que pretendem seguir, e domina-las é fundamental pois delas dependem as formulações de hipóteses. Depois de formulada as hipóteses o pesquisador passará a coletar os dados que logo em seguida serão avaliados e interpretados. Todos os tipos de documentação são validos desde que os fatos contidos neles sejam verificados até mesmo uma fotografia servira de fonte para um pesquisador.
São usados dois tipos de fontes históricas, a primeira é as fontes primarias que são documentos manuscritos ou impressos. E a segunda além de fontes escritas tem também as não escritas, por exemplo, a arqueologia e icnográficas.
A coleta de dados requer tempo e cuidado. O historiador nessa fase se preocupar em localizar os acervos documentais de maneira que evite a dispersão e a perda de tempo, para isso é importante que o tema já esteja delimitado e não se apropriar de um numero muito grande de documento.
Feita as coletas é hora de fazer o controle dos materiais selecionados para que eles não se percam, o autor nos mostra duas soluções, primeiro classifica-los e elaborar folhas e fichas de coleta. Depois desse processo é importante que cada documento de arquivo, fonte primaria e outros, tenham uma ficha documental ou bibliográfica de identificação contendo todos os dados que são necessários, pois caso queira fazer uma nova consulta isso facilitará o trabalho do pesquisador.
A crítica e elaboração dos dados é a etapa aonde vai se dá a prova das hipóteses, desde que os dado já tenha sido avaliados e interpretados. Em seguida ocorre a síntese histórica uma das etapas finais do processo de pesquisa, no qual se tem uma visão total do problema levantado. E por ultimo a redação que é o resultado da pesquisa, o autor mostra que nessa etapa o maior problema está na elaboração do plano de redação que deve ocorrer de forma equilibrada em ambos os aspectos.
O texto da pesquisa deverá ter introdução que entre outras coisas enuncia as hipóteses, métodos e escolhas de fontes. A conclusão faz um diagnostico do processo de pesquisa e deve ser feita com relação aos objetivos estabelecidos do processo.
Se tratando de pesquisa histórica não basta só afirmar é preciso provar, para isso faz o uso do aparelho de erudição que dispõe de vários componentes, sendo que os mais importantes são as notas de rodapé , que são classificadas em notas de referências, serve para verificar as afirmações do texto; notas de referências cruzadas, elas proporcionam ao leitor conhecer outras obras; notas de complementação deve vim junto ao texto de forma curta para que na interrompa a compreensão do mesmo.
Os anexos e peças justificativas são importantes, pois evitam longas citações, como é o caso da história onde muitos dos seus textos contém gravuras, elas podem aparecer no final de cada capitulo.
Na ultima parte do livro o autor, levanta a questão para que serve historia? Ele enfatiza que tudo vai depender de qual História se fala, já que como vimos na primeira parte do livro História é um termo que tem vários siguinificados e nos quais muitos teóricos divergem quando se trata de apontá-la como uma ciência. Além disso, desqualificam o trabalho do historiador por pura ignorância. Ainda para o autor o que diferencia o historiador dos outros cientistas sociais é que ele se preocupa com o tempo e as transformações das sociedades.Para Ciro Flamariom, o Historiador brasileiro tem que colocar suas pesquisas a disposição da sociedade de maneira que isso contribua pra as soluções de problemas existentes no país.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A mulher de elite do século XIX[1]




Elane Carvalho
Janaína Rios
[2]





A mulher do século XXI é conhecida por sua independência, a qual demorou milhares de anos para ser alcançada. Foram inúmeras lutas e protestos. Durante muito tempo esteve submissa ao marido e aos padrões da sociedade. Vivendo assim, numa cadeia circunstancial, não podendo ter o prazer de desfrutar a sua própria vida.
Muitos são os autores, que escrevem e debatem á respeito do processo de independência feminina no decorrer dos séculos. Contudo, autoras como Joana Maria Pedro, Mary Del Priore, entre outros, deixam claro que a conquista de espaço não foi algo meramente espontâneo. As mulheres não permaneceram omissas ou passivas diante da sociedade preconceituosa.
No cenário do século XIX, uma sociedade sistemática apoiada em pilares preconceituosos. Nesse contexto nas entrelinhas da história é possível traçar o perfil da mulher brasileira, suas aparições, revoltas, sentimentos, se silencio, suas lagrimas.
De acordo com Maria Ângelo D`Incao, havia um referencial para família burguesa:

“um sólido ambiente familiar, o lar acolhedor, filhos educados e esposa dedicada ao marido, ás crianças e desobrigada de qualquer trabalho produtivo, um tesouro social imprescindível”.
[3]

Neste modelo pode-se observar, o retrato da família “perfeita”, colocando a mulher como responsável pelo lar, educação dos filhos e inteiramente dedicada ao marido ainda para DÌncao, as mudanças ocorridas no campo social do século XIX, dando inicio a vida urbana, possibilitou a presença da figura feminina no meio social, permanecendo porém, sob avaliação e opinião dos outros.Essa mulher elitizada, agora começa a freqüentar lugares como teatros, bailes, cafés , entre outros acontecimentos da comunidade.
A mulher tinha o dever de zelar pela imagem familiar, mas principalmente do pai ou esposo.
Foi nesse período que se passou a valorizar a maternidade. Durante muito tempo a criação dos filhos, desde a amamentação e a educação dos primeiros anos de vida era feita pela ama de leite. A partir do século XIX, a presença da mãe tornou-se indispensável sendo dela a responsabilidade de instruir os filhos dentro dos parâmetros da sociedade.
A maior parte dos casamentos eram acordos políticos-economicos entre famílias ricas, através desses arranjos buscaram se manter ou adquirir estatus. Os enlaces matrimoniais aconteciam na sua maioria sem sentimento algum. Muitas mulheres só conheceram o marido no dia do casamento sendo que a beleza não era requisito para que o homem a cortejasse, porém o dote oferecido pela família da jovem era fator primordial para que houvesse a corte.
As moças eram instruídas desde cedo para o casamento, pois deveriam tornar-se “devotas” a seus maridos e boas mães.
Havia uma vigilância constante para com essas jovens com o intuito de preservar a castidade e consequentemente o nome da família. Dentro dos conceitos da época a virgindade feminina era algo primordial.
No sertão nordestino o casamento era visto com preocupação por não haver muitas famílias abastardas. A procura por um pretendente para a filha dava-se logo depois com sua primeira menstruação. O enxoval começava a ser confeccionado com isso crescia uma grande angustia por parte da família e da jovem, receosos de não conseguir o tão sonhado casamento, muitas moças não conseguiam parceiros a altura ou não possuíam dotes para o casamento, permanecendo solteiras sendo alvo de chacotas. Apos os 25 anos a mulher que não conseguisse pretendente era considerada velha para constituir o matrimonio. Rotulada como “moça velha”, moça que tinha dado o tiro na macaca ou que havia chegado ao caritó. (FALCI, 2008).
Não é difícil imaginar quão tensos foram os anos que antecederam os casamentos. A aflição da moça diante dos acontecimentos era tão grande que as perguntas eram constantes: Será que conseguiriam um casamento?O dote seria suficiente para atrair um bom moço? As indagações eram muitas, porém as respostas só eram dadas pelo tempo e pelos esforços familiares e de cada moça que não queriam ser rotuladas e nem apontadas pela sociedade.
O casamento só deveria acontecer com a permissão dos pais, porém muitas moças casavam sem esse consentimento sendo deserdadas por se unirem em matrimonio àqueles que haviam conquistado seu coração.
A solução que algumas jovens encontraram para obterem a benção da família para o namoro desejado foi “rapto consentindo”.Tudo era combinado,a moça era conduzida a alguém importante da cidade ou da região, como o juiz ou pessoas de laços familiar com o rapaz.Nem sempre acontecia de ter relações sexuais entre os enamorados .
A família da moça era avisada e o rapaz colocado contra parede não havendo alternativas para a desistência do ato matrimonial, caso contrario a reputação da família estaria ameaçada, pois a moça se tornaria “mulher perdida”.
É exatamente nesse contexto que torna possível a visibilidade da reação feminina contra as regras impostas pela sociedade. Os protestos se deram de varias formas, as que enfrentaram a família em nome de um amor, desafiando não apenas a autoridade patriarcal mais todo um sistema que por conseqüência poderia discriminá-la, excluindo-a do convívio social em nome da “moral inabalável”.
As tensões não se davam apenas nas expectativas pré-matrimonial. Muitos casamentos trouxeram a infelicidade, devido o tratamento que a esposa recebia de seu conjugue. A violência física era comum em muitos lares, levando em conta que algumas mulheres foram violentadas sexualmente por seus maridos. Não havia espaço para afinidade sexual. Proibida de desfrutar dos prazeres da vida sexual, somente “mulheres de vida fácil”, podiam dar e receber prazer.
As vestes femininas diziam muito de cada mulher, e essas variavam de região para região. Mulheres da elite nordestina usavam de simplicidade, trajando-se de forma a não chamar atenção, principalmente dos homens. Com roupas muito bem compostas e não abusava nos acessórios. Através desse perfil pode-se notar que a beleza externa não era prioridade na vida das mulheres nordestinas. Ao contrario dos dias atuais os padrões de beleza passavam bem longe do corpo magérrimo sem qualquer gordurinha. Na verdade, tal condição desqualificava sua imagem. Sinônimos de formosura estavam nos quilinhos a mais.
Miridam Knox Falci, chama à atenção as atividades que as mulheres desenvolviam:

“Eram treinadas para desempenhar o papel de mãe e as chamadas “prendas domésticas” orientar os filhos, fazer ou mandar fazer a conzinha, costurar e bordar. Outras, menos afortunadas, ou de uma elite empobrecida faziam doces por encomenda, arranjos de flores, bordados a crivo, davam aulas de piano e solfejo, e assim puderam ajudar no sustento e na educação da numerosa prole”.
[4]

Dentro da elite, havia divisões de classes, mulheres mais abastadas não desempenhavam atividades domésticas, estando sujeitas ao ócio. As que por algum motivo precisava desempenhar tais atividades, não eram bem vistas diante da sociedade que as discriminavam por concluírem que o homem da casa não era capaz de sustentar o próprio lar.
Durante muito tempo as mulheres se viram excluídas do meio escolar. Quando crianças lhes eram negadas o estudo das ciências, geométricas entre outros lhes passando apenas os conhecimentos básicos tais como escrita, leitura e as principais operações matemáticas. A maioria mal aprendia assinar o nome, enquanto os rapazes se aprofundavam nos estudos e eram enviados a escolas de outras localidades. Às moças eram ensinados a costurar, bordar, cozinhas e quaisquer afazeres designados femininos. Essa realidade poderia ser notada em varias regiões como enfatiza Miridan Kinox Falci no sertão nordestino:

“Apenas 27.776 pessoas da província de um total de 202.22 habitantes eram alfabetizadas, e dessas 27, pouco mais de 10 mil eram mulheres”.
[5]

Porém nas ultimas décadas do século XIX a situação em relação ao âmbito escolar e o acesso feminino começa a mudar. Crescia a necessidade da educação às mulheres. Acreditava-se que com instrução a função de cuidar da educação dos filhos de forma correta estaria garantida mantendo fora do lar toda influencia capaz de corromper o pilar familiar.
A formação estaria ligada à vida religiosa. Escolas católicas eram responsáveis pela educação das moças afim de que elas adotassem a figura da Virgem Maria como exemplo de vida:

“Através do símbolo mariano se apelava tanto para sagrada missão da maternidade quanto para a manutenção da pureza feminina”.
[6]

Através do referencial imposto buscava-se a atenção das mulheres quanto ao pudor, deveres como cuidar do lar, almejando ser o que a igreja e a sociedade definiam como a “perfeição feminina”.
Aos poucos a subordinação dá espaço às conquistas por meio da participação nas escolas normais, agora não apenas como alunos, mas como professoras.
Com a urbanização e industrialização outras alternativas de emprego foram surgindo e muitos homens abandonaram as salas de aulas. As mulheres passaram a ser maioria no magistério sendo cada vez mais responsáveis pela educação, agora não apenas dos seus filhos, e participantes de atividades docentes contribuindo para o desenvolvimento social das famílias. A maternidade foi fator de importante contribuição para a conquista deste espaço. Conquanto, nem todos concordaram com as novas transformações que implicaram as modificações nos costumes da sociedade. Mesmo sob influencia da Revolução Francesa onde a figura feminina possa ser redefinida, muitos insistiam em Avelar - se diante das mudanças.
Para Norma Teles a mulher ainda estará nos bastidores das obras. Contudo é preciso ressaltar que foi a partir dessa época que um número significativo de mulheres começou a escrever e publicar livros, inclusive no Brasil, ressaltando a negação que era atribuída às mesmas quando se referia à educação superior. É certo que, essas obras são criticas a posição da sociedade diante das virtudes femininas, um desabafo que quebra o silêncio, tingindo papel com sentimentos antes adormecidos na alma, daquelas que durante muito tempo estiveram acorrentados ao próprio medo.
Com a integração da mulher no meio literário almejava-se a ruptura com as relações de negação do se eu e suas possibilidades que giravam em torno de sua ascensão, é por esses e outros aspectos que Norma Telles afima que:
“cria um circulo vicioso: como não tem instrução, não está apta a participar da vida publica e não recebe instrução por que não participa dela”.
[7]

Os trabalhos escritos por mulheres do século XIX sofreram represarias durante muito tempo, não eram reconhecidos nem valorizados como mereciam. Mas eram neles que elas depositavam todos os seus anseios, na esperança de alcançarem outros adeptos, a fim de formar uma corrente que pudesse conquistar mais elos, fortificando-se diante da sólida nação preconceituosa.
Foi na escrita que mulheres conseguiram expressar seus sentimentos, através de romances e outras literaturas tentavam tirar a imagem da mulher voltada para o lar e as vontades do marido. Elas agora apresentavam uma figura mais forte, com determinações e protagonizavam heroínas, amavam e eram amadas. Houve também as que se arriscaram em volver seus escritos na política . Muitas surgiram nesse meio, onde ao lado de abolicionistas defenderam o fim da escravidão, fazendo discursos em praça publica e escrevendo artigo em jornais sobre o direito de libertos. (TELLES, 2008).
A ousadia podia comprometer a reputação de toda família, mais para elas significava o primeiro passo para a vitória na batalha por dignidade, aceitação e participação dentro do meio de convívio. Era a tão sonhada inclusão almejada por suas antecessoras e a abertura para um novo mundo que décadas mais tarde possibilitou o ingresso feminino na vida publica.
O processo de inclusão feminina aparti não foi do século XIX, não foi, portanto algo linear e homogêneo. A transformação dos costumes não se deu forma espontânea, foi preciso passar.























REFERENCIAS:


DEL PRIORE, Mary. História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005.

D`INCAO, Maria Ângela. Mulher e família burguesa. In: Del Priore, Marry (org.). História das mulheres no Brasil. 9° ed. São Paulo: Contexto, 2008.

FALCI, Miridan Knox. Mulheres do sertão nordestino. In: Del Priore, Marry (org.). História das mulheres no Brasil. 9° ed. São Paulo: Contexto, 2008.

LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: Del Priore, Marry (org.). História das mulheres no Brasil. 9° ed. São Paulo: Contexto, 2008.

TELLES, Norma. Escritoras, escritas, escrituras. In: Del Priore, Marry (org.). História das mulheres no Brasil. 9° ed. São Paulo: Contexto, 2008.

PEDRO, Joana Maria. Mulheres do sul. In: Del Priore, Marry (org.). História das mulheres no Brasil. 9° ed. São Paulo: Contexto, 2008.










[1] Artigo apresentado á disciplina História do Brasil (século XIX), sob orientação da docente Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes.
[2] Alunas de graduação em História do Departamento de Educação – Campus X/UNEB, Teixeira de Freitas, Bahia.
[3] D`Incao, Mulher e Família Burguesa, p. 223.
[4] Knox, Mulheres do sertão nordestino, p. 249.

[5] Ibidem, p. 251.
[6] Louro, Mulheres na sala de aula, p. 447.
[7] Telles, Escritoras, escritas, escrituras, p. 406.